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Desabafos,,

Da vida não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis, tive tudo o que pude, amei tudo o que valia a pena e perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu.

Desabafos,,

Da vida não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis, tive tudo o que pude, amei tudo o que valia a pena e perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu.

O que se Deixa para Trás

Texto “roubado”ao Júlio Machado Vaz

M. Martins, 28.03.22

O que se Deixa para Trás
Michaux viajava para se tornar mais pobre, para ficar com menos, ao contrário do que imaginamos quando saímos de casa com as malas feitas. Cremos frequentemente que nos vamos enriquecer.
Se a experiência costuma encher, caminhar é libertador, é deixar um mundo para trás. Há um empobrecimento, deixa de haver propriedade além do pouco que levamos connosco.
Há alguma semelhança com a morte, já que deixamos um mundo material para trás. Dizia-se, entre os anacoretas do deserto, que não há nada na morte que a solidão não nos tenha já sussurrado ao ouvido. Poderíamos dizer o mesmo da viagem. Não só para nós, como para quem fica. Ao deixar de ter contacto com as pessoas que o rodeavam, o viajante entra no mundo dos mortos, no Hades. As pessoas deixam de o ver, da mesma maneira que não vêem os mortos. A morte é uma curva na estrada.
Para o viajante, a viagem pode significar deixar tudo para trás, toda a sua vida, os amigos, os familiares, as suas possessões, e partir apenas com aquilo que lhe é absolutamente essencial, uma espécie de alma que só por teimosia ainda tem corpo, e ouvir assim sussurrar ao ouvido, as coisas que importam realmente: os poucos objectos que levamos e a falta que fará, na nossa vida futura, quem deixamos para trás.

Afonso Cruz, in 'Jalan Jalan'

O nosso mundo hoje!!

M. Martins, 21.03.22

 

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O mundo está perdido!
Tantas mortes e destruição.
Tantos estragos e poluição.
Tanta gente a morrer de fome .
Tanta gente rica que não reparte com ninguém.
Tantos problemas que os governos têm.
Tantas guerras arrasando nações.
Tantos acidentes, tantas explosões.

Tantas pessoas analfabetas, tantas sem onde morar.
Tantos adoecendo, sem remédio para se tratar.
O ser humano perdeu a razão.
afogou-se na suaprópria ambição.

 
 
 
 

 

Uma “rapidinha”!!

Cinema Português

M. Martins, 16.03.22

Fico irritado, e de que maneira, quando estou a ver um filme ou uma série de origem Portuguesa e só consigo mesmo ver, porque ouvir e entender os diálogos, isso já era, não dá.. ou há música de fundo que abafa as vozes, ou as vozes ficam tão abafadas que nada se entende,

concluindo: ponham legendas

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Voto eletrónico

Quando tencionam usar a tecnologia a favor do contribuinte?

M. Martins, 14.03.22

 

A propósito da embrulhada criada com os votos vindos da Europa e de fora dela: descobri este artigo do jornalista Rui da Rocha Ferreira.

“A digitalização de todos os aspetos da nossa vida é inevitável, mais vale prepararmo-nos para isto em condições do que andar sempre a remediar problemas, ano após ano”

 

Quem me conhece sabe que gosto de usar exemplos exagerados para colocar algumas ideias em perspetiva e tentar despertar um sentimento de culpa e vergonha alheia pelo caminho. Cá vai disto: já enviámos sondas para o espaço interestelar, temos protótipos funcionais de computadores quânticos, os sistemas de Inteligência Artificial já são capazes de verdadeiras revoluções ao conseguirem determinar estruturas de proteínas, mas ter voto eletrónico? Ui, isso é um desafio que não somos capazes de resolver!

 

E cá estamos nós, em 2021, na pior fase da pandemia – pelo menos para Portugal –, com umas eleições presidenciais à porta, as mais debatidas e faladas que me lembro por haver novas forças políticas no jogo do poder, e os níveis de abstenção podem ser os maiores de sempre, podendo mesmo aproximar-se dos 70%, segundo o jornal Expresso.

 

Esta é a minha opinião: o tema do voto eletrónico em eleições presidenciais, legislativas, autárquicas ou europeias não está resolvido, porque por algum motivo não há vontade em resolvê-lo. No final de quase todas as eleições, vemos os responsáveis políticos a lamentarem-se como a abstenção dos portugueses foi maior do que o desejado e como é imperativo refletir-se sobre o tema. Pois bem, nunca nenhum deles o fez verdadeiramente.

 

Se houve aspeto que a primeira vaga da pandemia nos ensinou, é que quando é preciso arregaçar as mangas, criam-se soluções para resolver os problemas das pessoas, nem que isso signifique criar um ventilador com peças feitas em impressoras 3D e com balões de festa! Foi possível fazer – e, mais importante, testar, testar, testar – uma vacina para a doença em dez meses. Obrigado ciência! Pessoalmente, não acredito que não fosse possível desenvolver um sistema de voto eletrónico seguro em igual período de tempo. Também gostava de poder agradecer à tecnologia.

 

Só alguém muito ingénuo é que podia acreditar que chegaríamos a janeiro sem uma nova vaga da pandemia. Maior ou menor, ela existiria sempre, como consequência dos contactos feitos nas épocas de Natal e Ano Novo. Por isso pergunto, porque não nos preparámos para esta eventualidade de termos milhares de infetados, isolados ou simplesmente com medo de irem votar? Porque não convocámos as melhores tecnológicas, os melhores especialistas em cibersegurança, constitucionalistas e todos os outros que fossem necessários, para criar um sistema de voto eletrónico em tempo recorde, funcional e seguro? Porque não fizemos disto uma prioridade nacional? Todos temos o direito ao voto e o Estado tem a obrigação de nos dar condições para exercermos este direito. Se não o fizer, estará a falhar redondamente naquela que é a sua missão e no seu contrato social estabelecido com os cidadãos.

 

Além disso, nem sequer teríamos de começar do zero. Nas eleições europeias de 2019, foi feito um teste piloto, em Évora, de voto eletrónico (presencial, é certo), experiência que recebeu uma nota positiva da secretaria geral do Ministério da Administração Interna. Só era preciso começar a construir a partir daqui. Na Estónia, em 2019, nas legislativas locais, dos 561.131 estónios que votaram, 247.232 fizeram-no através do sistema de votação online – ou seja, 44% usaram o voto eletrónico. Pois mande-se alguém para a Estónia para aprender como é que se faz!

 

Para mim, era preferível termos feito um esforço hercúleo para desenvolvermos um sistema de voto eletrónico funcional, mas que depois, por opção, até podíamos nem usar por a situação permitir o voto tradicional, do que estarmos com os dedos a fazer figas na expectativa de que a pandemia estivesse ‘sugadita’ e não nos chateasse.

 

Está mais do que na hora de usarmos o dinheiro dos contribuintes para aquilo que é verdadeiramente importante e que salvaguarde o seu interesse. Está na altura de deixarmos de achar normal que o Portal das Finanças vá abaixo quando é preciso meter as faturas ou que o Portal das Matrículas deixe os pais à beira de um ataque de nervos, como aconteceu no ano passado. Está na altura de pensarmos na tecnologia como uma verdadeira resposta e alternativa para determinadas ações ‘analógicas’, em vez de olharmos apenas para elas como um meio termo, como ‘só meia dúzia é que vão usar isto’ ou ‘como é óbvio, não devem submeter as faturas todas no último dia do prazo’. Porquê? O prazo não serve para isso mesmo, para me permitir fazê-lo até àquele ponto? Um golo nos descontos no futebol não é tão válido como um golo nos primeiros segundos da partida? A digitalização de todos os aspetos da nossa vida é inevitável, mais vale prepararmo-nos para isto em condições do que andar sempre a remediar problemas, ano após ano.

 

O voto eletrónico podia até nem ser para todos os portugueses, mas sê-lo apenas, por exemplo, para quem está mesmo ‘impedido’ de ir votar. Se conseguíssemos reduzir em 5, 10 ou 15% o número de pessoas que se deslocam às urnas – e haverá sempre quem o irá fazer, nem que um dia se invente o voto telepático –, já estávamos a dar uma grande ajuda em termos de mitigação de riscos de saúde pública. E mais importante, estaríamos a dar um passo de gigante na salvaguarda de um direito fundamental dos cidadãos e, no global, da democracia.

 

Tirando o descrédito nos políticos, nunca se perguntaram por que razão a abstenção é tão elevada? Nunca se perguntaram se é possível que a abstenção diminua significativamente se tornarmos muito mais conveniente o método de voto?

 

Há um ditado que diz que para aprender é preciso cair. Pois bem, que este tenha sido o tombo final que todos precisavam, especialmente os que têm responsabilidade política, para que se concretize algo que já devia ser uma realidade.

 

 

 

Mãe

Hoje teríamos estado juntos fisicamente, mesmo assim sinto a sua presença junto de mim!

M. Martins, 13.03.22


Mãe:

Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim

 

Miguel Torga, in 'Diário IV' 

 

Mal nenhum

Nunca viram ninguém triste!!!??

M. Martins, 11.03.22

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Nunca viram ninguém triste
Por que não me deixam em paz?
As guerras são todas tão tristes
E não têm nada demais
Me deixem bicho acuado
Por um inimigo imaginário
A correr atrás dos carros
Feito um cachorro otário
Me deixem,ataque equivocado
Por um falso alarme
Quebrando objetos inúteis
Como quem leva uma porrada
Me deixem esmurrar e amolar a faca
Cega, cega da paixão
E dar tiros a esmo ferindo sempre o mesmo
Cego coração
Por isso
Não escondam suas crianças
Nem me chamem o síndico
Não me chamem a polícia,não
Não me chamem o hospício
Eu não posso causar mal nenhum
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim
Mal nenhum
A correr atrás dos carros
Mal nenhum
A não ser a mim mesmo
Eu não posso causar mal nenhum
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim

Quando Eu For Pequeno

Aí como eu gostava de voltar ser pequeno!!

M. Martins, 08.03.22

Quando Eu For Pequeno

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Quando eu for pequeno, mãe, 

quero ouvir de novo a tua voz 

na campânula de som dos meus dias 

inquietos, apressados, fustigados pelo medo. 

Subirás comigo as ruas íngremes 

com a certeza dócil de que só o empedrado 

e o cansaço da subida 

me entregarão ao sossego do sono. 

 

Quando eu for pequeno, mãe, 

os teus olhos voltarão a ver 

nem que seja o fio do destino 

desenhado por uma estrela cadente 

no cetim azul das tardes 

sobre a baía dos veleiros imaginados. 

 

Quando eu for pequeno, mãe, 

nenhum de nós falará da morte, 

a não ser para confirmarmos 

que ela só vem quando a chamamos 

e que os animais fazem um círculo 

para sabermos de antemão que vai chegar. 

 

Quando eu for pequeno, mãe, 

trarei as papoilas e os búzios 

para a tua mesa de tricotar encontros, 

e então ficaremos debaixo de um alpendre 

a ouvir uma banda a tocar 

enquanto o pai ao longe nos acena, 

lenço branco na mão com as iniciais bordadas, 

anunciando que vai voltar porque eu sou 

                                                       [pequeno 

e a orfandade até nos olhos deixa marcas. 

 

José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"