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AMOR DE PERDIÇÃO “LEGALIZADO”
O Largo “Amor de Perdição” é na cidade do Porto e pretende, certamente lembrar Camilo Castelo Branco e a sua romântica coroa de glória “Amor de Perdição”, romance escrito em quinze dias na Cadeia da Relação, do Porto, onde Camilo cumpria pena pelo crime de adultério praticado com Ana Plácido, “vitimando” a sociedade em que se integravam.
Era a época dos amores proibidos e das tragédias de coração, romantismo português exposto aos ventos de 1861, numa espécie de disfarce monogâmico que não recolhia adeptos, mas antes transformava em drama as paixões proibidas entre famílias desavindas.
Camilo interpretou factos, mas valeu – se de si próprio e da história da sua família, para lançar, na maré cheia das letras, um romance de cortar à faca, muito bem escrito, mas de estrutura pouco consistente em comparação com outras obras do mesmo autor.
No entanto foi o que mais vingou e originou adaptações várias (para cinema e televisão) que fizeram de Simão Botelho, de Teresa Albuquerque e de Mariana, símbolos dos amores proibidos e das paixões impossíveis, espraiando -se em lenda por Coimbra, Viseu e Porto, com ecos de êxito em todo o país.
“O Amor de Perdição” e Camilo Castelo Branco voltaram agora às primeiras notícias de jornais, rádios e televisões, pelos piores motivos, ao saber – se que o presidente do município portuense tinha acedido a um abaixo – assinado de trinta e sete individualidades, no sentido de mandar retirar a escultura, da autoria de Francisco Simões, que interpreta “O Amor de Perdição” de Camilo, colocada no largo com o mesmo nome há onze anos atrás!...
Ou seja: ficaria o Largo sem “Amor de Perdição” ou o “Amor de Perdição” seria posto ao largo e arquivado nas catacumbas camarárias, por entre desperdícios e trastes velhos.
Francisco Simões não merecia o insulto. Camilo Castelo Branco não viria a tempo de reescrever o livro censurado desta forma, nem ele o faria. E o povo da cidade, não justificaria a provação.
Simão Botelho morreu a caminho de Goa. Teresa de Albuquerque morreu no convento. E a estátua de Francisco Simões morreria às mãos de um puritanismo doentio de indivíduos que, ou não leram a obra, ou entenderam (mal) que Camilo não era, ele próprio, a figura principal do “Amor de Perdição”.
Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto reverteu a sua decisão inicial de aceder ao abaixo – assinado das trinta e sete “personalidades” e baseando – se numa desculpa legalista resolveu manter a estátua no local. Mas só por isso. Pelo legalismo de uma decisão camarária.
Por mim, sinto dó dos que não sabem, dos iletrados, dos falsos moralistas, dos deturpadores da vida e dos que andam pelo Mundo a fingir o que não são.
FERNANDO CORREIA
(Autor e Jornalista)
como estou totalmente de acordo com o Fernando tomei a liberdade de "roubar" o seu texto