A igualdade de género é uma discussão que ganhou o seu espaço mediático, mas a verdade é que o caminho é sinuoso e pejado de obstáculos. Persiste o abismo das diferenças salariais entre homens e mulheres, a maternidade continua a ser vista como um entrave profissional, os lugares de chefia sempre ocupados, na sua esmagadora maioria, por homens.
Muito foi feito, muito há a fazer. Mas como é que chegamos a este dia?
É preciso recuar a 26 de fevereiro de 1909, e à cidade de Nova Iorque , para encontrarmos o momento zero do que viria a ser o Dia Internacional da Mulher.
Foi nesse dia que teve lugar uma grande manifestação de mulheres, consta que cerca de 15 mil, onde era reivindicado o direito ao voto feminino e melhores condições de trabalho, uma vez que nos alvores do século XX, as mulheres trabalhavam em jornadas que podiam chegar às 16 horas, seis dias por semana. E muitas vezes estendia-se até ao domingo, com reflexos naturais na vida familiar.
Este movimento contestatário já ia também fazendo o seu caminho na Europa, designadamente nas fábricas dos países mais industrializados, e foi durante a Conferência de Mulheres da Internacional Socialistas, realizada em Copenhageem 1910, que o Dia Internacional da Mulher começou a ganhar forma.
Clara Zetkin, figura histórica do feminismo e uma das fundadoras e dirigentes do Socorro Vermelho Internacional, sugeriu que o dia da mulher fosse assinalado todos os anos. Contudo, ainda não foi ali que se fixou uma data.
Foi precisamente a 8 de março de 1917 que na Russia as mulheres saíram à rua uma vez mais, em protesto contra a carestia, o desemprego e as cada vez mais precárias condições de vida no país dos czares. Os operários, homens, juntaram-se à luta, o que acabaria por precipitar a revolução bolchevique de 1917.
Países como a Arábia Saudita, onde as mulheres têm os movimentos controlados, ou nações africanas onde a mutilação genital feminina é uma prática corrente, e muitas vezes socialmente aceite, fazem-nos pensar que há muito estrada para andar antes de a comemoração do Dia Internacional da Mulher ser completa e definitiva.
E já que estamos em Portugal, numa sociedade supostamente igualitária, não esqueçamos neste dia, por exemplo, as mulheres que todos os anos são vítimas de violência doméstica, uma praga que tarda em erradicar-se. Ou o ainda diminuto número de mulheres em cargos de chefia.
Por isso, se hoje a brindarem com flores ou chocolates, recuse com delicadeza. Ou então grite bem alto que a luta das mulheres não é os 100 metros barreiras. É uma maratona e, infelizmente, com um final ainda longínquo.