Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Desabafos,,

Da vida não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis, tive tudo o que pude, amei tudo o que valia a pena e perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu.

Desabafos,,

Da vida não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis, tive tudo o que pude, amei tudo o que valia a pena e perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu.

Quando Eu For Pequeno

Aí como eu gostava de voltar ser pequeno!!

manel martins, 08.03.22

Quando Eu For Pequeno

64B34C54-3A27-4488-B2BA-442CC3F92447.jpeg

Quando eu for pequeno, mãe, 

quero ouvir de novo a tua voz 

na campânula de som dos meus dias 

inquietos, apressados, fustigados pelo medo. 

Subirás comigo as ruas íngremes 

com a certeza dócil de que só o empedrado 

e o cansaço da subida 

me entregarão ao sossego do sono. 

 

Quando eu for pequeno, mãe, 

os teus olhos voltarão a ver 

nem que seja o fio do destino 

desenhado por uma estrela cadente 

no cetim azul das tardes 

sobre a baía dos veleiros imaginados. 

 

Quando eu for pequeno, mãe, 

nenhum de nós falará da morte, 

a não ser para confirmarmos 

que ela só vem quando a chamamos 

e que os animais fazem um círculo 

para sabermos de antemão que vai chegar. 

 

Quando eu for pequeno, mãe, 

trarei as papoilas e os búzios 

para a tua mesa de tricotar encontros, 

e então ficaremos debaixo de um alpendre 

a ouvir uma banda a tocar 

enquanto o pai ao longe nos acena, 

lenço branco na mão com as iniciais bordadas, 

anunciando que vai voltar porque eu sou 

                                                       [pequeno 

e a orfandade até nos olhos deixa marcas. 

 

José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"

2 comentários

Comentar post